Antes de tornar realidade um teste mais sensível, rápido e barato para detectar o câncer de pâncreas, Jack Andraka foi rejeitado por 199 pesquisadores
Leoleli Camargo, iG São Paulo|
Jack Andraka – guarde esse nome – tem 15 anos. Em maio deste ano ele venceu a Feira Internacional de Ciência e Engenharia da Intel com um projeto que pode mudar a história do câncer de pâncreas: um teste para detectar a doença 68 vezes mais rápido, 400 vezes mais sensível e 26 mil vezes mais barato que o padrão usado hoje para detectar a doença, inventado nos anos 50
A doença que vitimou um familiar de Jack e inspirou o jovem a pesquisar uma forma de detectá-la antes que ela se espalhe para o resto do corpo, tem um prognóstico sombrio: menos de 2% dos diagnosticados em estágio avançado sobrevivem.
BBC
Jack com o sensor de nanotubos: potencial revolução no diagnóstico do câncer de pâncreas
“Eu pensei: se fosse possível diagnosticar essa doença em estágios bem iniciais, as chances de sobrevivência aumentariam muito”, conta ele.
Munido de vontade, curiosidade e uma bagagem científica incomum para garotos da idade dele, Jack se embrenhou no tema e bolou o teste unindo conceitos estudados nas aulas de Biologia com o que havia lido em um artigo sobre nanotubos – estruturas milhares de vezes menores do que a espessura de um fio de cabelo.
“Eles têm propriedades incríveis, são como super-heróis da Ciência.”
Como ele conseguiu fazer isso? Filho mais novo de uma médica e um engenheiro civil, ele foi estimulado desde cedo a encontrar por si as respostas para as dúvidas que tinha sobre as coisas. Além de inteligente e esforçado, claro, Jack foi perseverante. Decidido a concretizar a ideia do teste, ele escreveu para nada menos que 200 pesquisadores norte-americanos apresentando o projeto de pesquisa e pedindo espaço em laboratório para trabalhar nele. Apenas um respondeu que sim. Ainda bem.
Jack conversou com o iG pelo telefone, do laboratório que aceitou abrigá-lo e incentivá-lo. Hoje, ele estuda meios de viabilizar comercialmente o teste. Jack Andraka – guarde esse nome – tem 15 anos. Veja a seguir a entrevista. iG: Quando você começou a se interessar por ciências? Jack Andraka: Eu tinha uns três anos quando meu pai comprou para mim e para o meu irmão [ dois anos mais velho ] uma maquete de plástico de um rio, com água e tudo. Nós ficamos brincando com aquilo o dia inteiro, observando a corrente e colocando os mais diferentes objetos nela, para ver o que afundava, o que seguia o curso da água e o que mudava a corrente. A gente queria respostas. Queria entender como aquilo acontecia. Acho que o interesse despertou a partir daí. iG: Quanto tempo depois disso você começou a participar de competições de ciências? Jack Andraka: A primeira competição foi na 6ª série, com 12 anos. Eu adaptei um dispositivo de segurança para evitar que o fluxo de água nas quedas d’água de pequenas represas cause afogamentos. iG: Você venceu? Jack Andraka: Eu tinha 10 anos e como estava na 6ª série, não podia participar do prêmio da Intel, porque aqui nos EUA ele é apenas para estudantes de ensino médio. Mas tirei segundo lugar na versão internacional do mesmo prêmio com esse projeto.
iG: Como você teve a ideia do projeto vencedor do prêmio internacional deste ano?
Jack Andraka: Eu escolhi um tema que me interessava na época. O câncer de pâncreas teve um impacto importante na minha família, nós perdemos um parente com a doença. Aí fui pesquisar sobre ela e descobri que 85% dos casos são diagnosticados em estágios avançados, quando o câncer já está espalhado pelo corpo e os pacientes em geral têm menos de 2% de chances de sobrevivência. Eu pensei: se fosse possível diagnosticar essa doença em estágios bem iniciais, as chances de sobrevivência aumentariam muito.
iG: E você simplesmente decidiu fazer isso?
Jack Andraka: Bem, eu fui atrás de todas as formas conhecidas de diagnóstico desse tipo de câncer e descobri uma proteína chamada mesotelina, que está presente no câncer de pâncreas, assim como nos de ovário e pulmão. A ideia veio mesmo numa aula de biologia. Estávamos aprendendo sobre anticorpos, essas estruturas produzidas pelo sistema imunológico. No câncer que eu estava estudando, os anticorpos se ligavam apenas à mesotelina. Na mesma época, li um artigo muito legal sobre nanotubos de carbono. Você sabia que essas estruturas têm o diâmetro 150 mil vezes menor do que o de um fio do seu cabelo?
iG: Nossa, não tinha ideia de que eram tão pequenas...
Jack Andraka: Sim, os nanotubos têm propriedades incríveis, são
como super-heróis da Ciência. Ok, o que fiz foi meio que conectar essas duas ideias. Eu inventei um sensor de nanotubos de carbono e anticorpos capaz de identificar a presença da mesotelina e dizer, baseado no quanto dessa proteína se liga aos anticorpos, se a pessoa tem câncer de pâncreas.
iG: Quanto tempo você levou para concretizar a ideia? Jack Andraka: Foram ao todo 7 meses de muito trabalho. iG: Onde você trabalhou? Em casa? No laboratório da escola? Jack Andraka: Não, eu contatei 200 pesquisadores na Universidade Johns Hopkins e nos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos pedindo espaço em laboratório e apoio para desenvolver a minha pesquisa. Apenas um me disse sim [ Anirban Maitra, professor de Patologia, Oncologia e Engenharia Química e Biomolecular da Escola de Medicina da Johns Hopkins ]. Uns me responderam que não tinham espaço, outros que não tinham o equipamento, outros simplesmente não responderam. Quando finalmente fui aceito, cumpri um rigoroso processo para me transformar em um pesquisador e iniciei o trabalho. iG: Durante a pesquisa, como ficou a escola? Você conseguia dar conta de tudo? Jack Andraka: Normalmente eu consigo fazer todas as coisas da escola durante o período das aulas. Enquanto desenvolvia o projeto, eu ficava até tarde da noite no laboratório fazendo e refazendo os testes, então aproveitava o tempo entre eles para completar o dever de casa. iG: Os seus pais não reclamavam de você ficar até tarde da noite trabalhando? Jack Andraka: Meus pais não reclamavam, pelo contrário. Eles sempre valorizaram o trabalho e o esforço. Acho que só consegui chegar até aqui porque como pais eles me ajudaram e me incentivaram. iG: Com todas essas atividades, você consegue passar algum tempo com os amigos e a família? Aliás, você tem namorada? Jack Andraka: Não tenho namorada. Mas eu gosto de socializar sim. Este ano, com todo o trabalho no projeto, a minha vida social ficou um pouco comprometida, mas os meus amigos me apoiam e entendem isso. E continuam meus amigos. iG: Depois da vitória no prêmio da Intel você foi contatado por algum interessado em produzir e vender o seu teste? Jack Andraka: Sim, já fui contatado por sete empresas de biotecnologia interessadas em produzir o teste. Estou aguardando a conclusão do processo de patente, ainda não decidi que direção quero tomar. iG: Além do câncer, quais outras áreas você ainda gostaria de pesquisar? Jack Andraka: Eu definitivamente gosto de Biologia, mas também tenho interesses em Física e Química. Então venho tentando combinar essas três coisas nos meus próximos projetos. iG: Já pensou sobre a faculdade? O que pretende cursar e onde deseja estudar? Jack Andraka: Hum...não tenho a mínima ideia de onde ou o que vou estudar. Há tantas opções hoje em dia e tanta gente com diploma. Não sei se quero seguir esse caminho. iG: O seu histórico e a sua mais recente invenção geraram uma grande expectativa em torno da sua performance no concurso do próximo ano. Como você lida com isso? Jack Andraka: Acho que será um novo desafio. Quero participar do concurso do ano que vem e pretendo me divertir com isso. Só quero seguir pesquisando.
Washington, 6 ago (EFE).- O veículo explorador Curiosity pousou hoje em Marte ao término de uma viagem de 567 milhões de quilômetros e no começo de uma missão de dois anos na busca de provas de vida no planeta vermelho.
A Nasa confirmou que a nave de uma tonelada, após uma complexa manobra durante "sete minutos de terror" desde sua entrada na atmosfera marciana, pousou na cratera Gale.
"Estou inteiro e a salvo na superfície de Marte", diz uma mensagem no blog da Nasa, que deu lugar a uma comemoração com aplausos e abraços entre o pessoal de sala de controle do Laboratório de Propulsão em Pasadena, Califórnia.
"Cratera Gale, aqui estou!", acrescentou a mensagem enviada de 248 milhões de quilômetros, nesta bem-sucedida fase de uma missão com um orçamento de US$ 2,5 bilhões.
Tal como tinha sido planejado, a cápsula abriu um gigantesco paraquedas quando estava a cerca de 11 metros de altura para frear a queda.
A cerca de 20 metros do solo, um sistema baixou o Curiosity, que abriu suas seis pernas de rodas e iniciou sua aventura em Marte.