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22 de set. de 2011

Ancestral de mamíferos com dentes de sabre é descoberto no Brasil

Animal herbívoro, que viveu há 260 milhões de anos, parece ser mistura de animais diferentes, diz descobridor

Alessandro Greco, especial para o iG | 24/03/2011 15:00


Foto: Juan Cisneros
O Tiarajudens eccentricus usava seus dentes de tigre dente de sabre para espantar predadores
O sobrenome eccentricus já conta boa parte de quem é o Tiarajudens eccentricus, um herbívoro que viveu há 260 milhões do anos no Brasil. Descoberto por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade Federal do Piauí (UFPI), em Tiaraju, no interior do Rio Grande do Sul, ele tinha, apesar de comer apenas plantas, um par de dentes de tigre de sabre (um carnívoro ferrenho) do comprimento de lápis de cera, desses para crianças. As presas do eccentricus não são, no entanto, sua única, digamos, excentricidade. “Ficamos todos muito surpresos [com a descoberta], pois esta nova espécie reúne características muito inesperadas, causando inclusive a impressão de ser uma mistura de animais diferentes. Ele possui dentes incisivos similares aos de um ruminante e dentes molares que no seu conjunto lembram os de uma capivara. Contrastando com esta dentição típica de animal herbívoro, temos a presença de grandes dentes de sabre como os de um felino. Mais ainda, os molares não estão na maxila e sim no palato, algo nunca antes visto num quadrúpede.”, explicou ao iG Juan Carlos Cisneros, da UFPI, que liderou o trabalho.
A descoberta, relatada na edição de hoje do periódico científico Science, também traz uma das primeiras evidências da capacidade dos terapsídeos (grupo de animais do qual o Tiarajudens eccentricus faz parte e que deu origem aos mamíferos) de mastigar de forma eficiente os alimentos. “Isto mostra que algumas características que considerávamos típicas dos mamíferos e de seus ancestrais próximos (os cinodontes), tais como a mastigação, apareceram milhões de anos antes, no final da era Paleozoica.”, explicou Cisneros. A habilidade de mastigar, chamada oclusão dental, permitiu, por exemplo, que o eccentricus processasse plantas com grande quantidade de fibra e pudesse se expandir para novas nichos ecológicos.
O eccentricus também possui a mais antiga presença de dentes de sabre num herbívoro, característica que até então nunca havia sido observada num animal que não fosse um mamífero. “Hoje em dia, os únicos herbívoros com dentes de sabre são cervos que habitam a Asia (o veado-almiscareiro e o veado-d'água), que usam seus dentes de sabre para lutas territoriais entre os machos.”, afirmou Cisneros. O eccentricus, segundo os pesquisadores, talvez usasse os seus para assustar os predadores ou para, como os cervos, garantir seu espaço.

Mamíferos já evoluíam antes da extinção dos dinossauros

Estudo com partipação de professor da PUC-RS mostra que início do domínio do grupo na Terra começou há 80 milhões de anos

Tatiana Tavares, especial para o iG | 22/09/2011 16:05

Mamíferos já evoluíam antes da extinção dos dinossauros
Estudo com partipação de professor da PUC-RS mostra que início do domínio do grupo na Terra começou há 80 milhões de anos

Foto: Getty Images
Filhote de urso pardo: estudo muda cronologia da evolução dos mamíferos
Um novo estudo sobre mamíferos indica que eles começaram a se diversificar muito antes do que se pensava. Isso teria sido há 80 milhões de anos, no período Cretáceo, e não como se pensava antes - acreditava-se que a maior diversificação dos mamíferos teria ocorrido logo após a extinção dos dinossauros, há 65 milhões de anos.

A pesquisa, liderada por Robert Meredith, do Departamento de Biologia da Universidade da Califórnia, analisou dados moleculares de 164 espécies de mamíferos, trazendo nova luz sobre como e quando eles se diversificaram e começaram a ocupar diferentes nichos ecológicos ao redor do planeta.

“Embora estudos anteriores tenham elucidado as relações entre os mamíferos, este é o primeiro a examinar as relações e os tempos de divergência entre as famílias de mamíferos usando uma reunião de dados de um grande número de genes diferentes”, disse Meredith ao iG.

Segundo Mark Springer, coautor do estudo publicado na revista Science nesta quinta-feira (22), os resultados sugerem a ocorrência de dois eventos na história da Terra que atuaram de forma importante na diversificação dos mamíferos.

“O primeiro deles foi a radiação de plantas com flores durante a Revolução Terrestre do Cretáceo, que muito provavelmente impulsionou uma importante diversificação taxonômica dos mamíferos cerca de 80 milhões de anos atrás. E a segunda teria sido a abertura de um espaço para a aceleração da diversificação morfológica dos mamíferos após a extinção dos dinossauros”, afirmou Springer, do Departamento de Biologia da Universidade da Califórnia.

O boom dos mamíferos
Segundo o novo estudo, o grande momento de diversificação dos grupos de mamíferos não teria sido após a extinção dos dinossauros, e sim antes.

Os mamíferos têm a mesma idade que os dinossauros, mas a ideia que se tem é a de que teriam apresentado pouca diversidade durante muito tempo, de acordo com Eduardo Eizirik, da Faculdade de Biociências da PUC-RS, coautor do estudo publicado na Science. Foi durante seu trabalho de doutorado no Laboratório de Diversidade Genômica dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, em Maryland, que Eizirik se uniu a outros colegas, incluindo o grupo de Mark Springer, para investigar a evolução dos mamíferos, resultando em uma série de estudos sobre este tema.

Por mais de 100 milhões de anos, os mamíferos teriam mantido uma estrutura bastante primitiva, perdendo na corrida com os dinossauros e só conseguido se diversificar expressivamente após a extinção deles. Mas o estudo apresentado agora prova que a equação não é tão simples assim. Há uma diversificação dos mamíferos anterior à extinção dos dinossauros.

“Os principais grupos de mamíferos já estavam formados antes de os dinossauros desaparecerem, e a diversificação entre os grupos teria ocorrido em lugares diferentes do planeta. Eles eram muito parecidos, mas já estavam formando linhagens próprias antes mesmo da extinção dos dinossauros”, comenta Eizirik em entrevista ao iG.

“Quando os dinossauros se extinguiram houve também diferenciação dos mamíferos, mas não tão intensa como ocorreu 15 milhões de anos antes. Nossos artigos anteriores já demonstravam que o pico da diferenciação teria sido anterior à extinção dos dinossauros, mas não detalhavam quando isso teria ocorrido. Agora, temos essa resposta”, completa.

Segundo Springer, o estudo fornece uma estrutura para muitas outras linhas de investigação, incluindo um roteiro para projetos futuros de sequenciamento de genomas.

Físicos europeus descobrem partículas mais rápidas que a luz

Pesquisadores do Cern dizem ter encontrado neutrinos que desafiam a teoria da relatividade de Einstein

iG São Paulo | 22/09/2011 17:01
Físicos europeus descobrem partículas mais rápidas que a luz
Pesquisadores do Cern dizem ter encontrado neutrinos que desafiam a teoria da relatividade de Einstein
Foto: AP
Sede do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern, em Genebra: descoberta que balança as leis da Física
Físicos anunciaram esta quinta-feira (22) que partículas subatômicas denominadas neutrinos podem viajar mais rápido que a luz, uma descoberta que, se comprovada, seria inconsistente com a teoria da relatividade de Einstein.
Em experimentos feitos entre o Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern), em Genebra, na Suíça, e um laboratório na Itália, as minúsculas partículas foram cronometradas a uma velocidade de 300.006 km/seg, sutilmente mais rápido do que a velocidade da luz, afirmaram os cientistas.
“Dá uma sensação de que tem alguma coisa errada, que isso não pode estar acontecendo,” disse James Gillies, porta-voz do Cern. Ele afirmou que os resultados surpreenderam tanto os pesquisadores da institução que eles pediram que outros colegas verificassem suas medições antes de anunciar de fato a descoberta.”Eles estão convidando a comunidade mundial da Física a examinar minuciosamente seu trabalho, e idealmente, conseguir que alguém repita os resultados,” afirmou.
A equipe do acelerador de partículas do Fermilab, nos Estados Unidos, já se comprometeu a iniciar esse trabalho. “É um choque,” disse o chefe do grupo de Física Teórica do Fermilab, Stephen Parke, que não fez parte da pesquisa na Suíça. “Vai nos causar um monte de problemas, isso é fato. Se é que é mesmo verdade”.
O Fermilab conseguiu resultados semelhantes em 2007, mas a margem de erro era tão grande que minimizou sua importância científica.
Outros cientistas de fora do Cern mostraram ceticismo. O chefe do departamento de Física da Universidade de Maryland chamou a descoberta de “tapete voador”, algo fantástico demais para ser crível.
O Cern afirma que um raio de neutrinos (conhecidos por ser uma das partículas mais estranhas da Física moderna) disparado de Genebra para um laboratório na Itália a 730 quilômetros de distância viajou 60 nanossegundos mais rápido que a velocidade da luz, com uma margem de erro de 10 nanossegundos. Mas como as implicações do experimento são importantes, os cientistas passaram meses checando e rechecando seus resultados para garantir que não houve erros e falhas na experiência.

“Não achamos nenhum erro que pudesse explicar este resultado,” afirmou Antonio Erediato, físico da Universidade de Berna, na Suíça, que esteve envolvido na experiência, chamada de OPERA.
Além do Fermilab, nos Estados Unidos, outro centro de pesquisa que pode replicar a experiência é o T2K, no Japão, que no momento está desativado por conta do terremoto de 11 de março.
Mas os cientistas concordam que se os resultados forem confirmados, eles vão forçar uma revisão completa das leis da física.
A Teoria da Relatividade de Einstein, que diz que a energia é igual a massa vezes a velocidade da luz é a base de toda a física moderna, afirmou John Ellis, físico do Cern que não esteve envolvido na experiência. “Funcionava perfeitamente até agora”, ressaltando que os pesquisadores do OPERA podem ter a responsabilidade de explicar como neutrinos mais rápidos que a luz não foram descobertos até agora. “Se for verdade, é uma descoberta tão fantástica, mas tão fantástica, que temos que ser cuidadosos até confirmá-la”.